Rosemary


Quando se deu conta de si, estava sentada, no carro
Os olhos abriram lentamente e a luz quase a cegou
O sol brilhava lá fora e as janelas estavam fechadas.

O calor permeava sua pele e ela tornou a fechar os olhos,
Levando sua mão direita em direção ao vidro, para tocá-lo.
Um pequeno sorriso brotou do lado esquerdo da boca
Pensou que talvez nunca tivesse sentido felicidade com uma coisa tão pequena quanto o calor do Sol.

Felicidade
Quando pensou na palavra em si, só conseguiu visualizar um martelo.

Limpou os pensamentos e abriu os olhos de novo.
As árvores lá fora passavam rápido demais
Formando borrões em formato de animais
Que nunca sequer tinha visto
E tudo aquilo era belo, era perfeito.

"Estamos indo para um lugar muito bom, Rose"
Ela ouviu, e trocou a atenção da parte de fora para a frente do carro
Notava que seu corpo respondia de uma forma mais calma,
Como se embriagada estivesse.
Seu pai havia falado, e ela pôde notar que haviam vestígios de lágrimas em seu rosto

Lágrima
Quando pensou na palavra em si, lembrou de alguns homens de branco segurando um picador de gelo.

Limpou os pensamentos e acabou percebendo que não conseguia se lembrar de muita coisa
Como havia chegado ali, o que acontecera antes,
Quem, em essência, era ela mesma.
Mas uma frase rebatia em sua mente.
"A lobotomia vai dar certo, a lobotomia vai dar certo". 

Não havia mais medo, ou pavor
Palavras que ela a existência ela saberia,
Porém nunca mais as sentiria.
O calor do Sol ainda esquentava o lado direito do seu rosto
A mão ainda tocava o vidro do carro
Seu pai ainda dirigia com lágrimas nos olhos
As árvores ainda voavam rápido lá fora
E seu sorriso no lado direito da sua boca ainda estava lá.

"A lobotomia deu certo".