Os meus olhos não veem

O que era sempre combinado, planejado e esperado, agora é algo que não combina, não se planeja e nem se espera. Então guardo no peito o que faz mal por apenas querer que assim seja, visualizando por conta da mente o que se passa a milhas de distância mesmo não sabendo ao certo ou não querendo saber de certa forma, as coisas se encaminham nesse desencontro. Mais uma vez partilhamos da mesma garoa da madrugada mas o que era rotineiro agora já havia se quebrado com o silêncio de todas as coisas que deveriam ser ditas. Quando não se espera as palavras mais indesejáveis acabaram sendo proferidas e o que era riso se transforma em um pranto descontrolável, desses que não se suporta sozinho, mesmo precisando estar. Vejo o quão parcas foram as horas vistas da janela de um ônibus, tão triste imaginar que a história se repete e que banaliza tudo o que foi intenso e mesmo sabendo que o esquecimento é necessário, que a opção é dolorida, a cabeça e o coração possuem certa inimizade, quando deveria dar um passo à frente, ir adiante, prestar atenção no caminho parece ser impossível, intocável, inatingível, falta tato, falta afeto onde só existe ausência. Nós respiramos no mesmo ambiente mas não chocamos aquela energia que agora parece tão amena, não nos transformamos em um só, não dividimos os dias, não deitamos no gramado, não dormimos numa tarde num quarto de hotel, não nos perdemos no centro da cidade desconhecida, não ficaremos mais juntos nessa mocidade, agora parece que foi tão pouco, mínimo, finito... mas os meus olhos não veem.