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Uma vez você me disse sobre uma humanidade perdida. Que humanidade seria essa?
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A mesma em que nós nos encontramos hoje - disse com raiva nas palavras. Fazia
silêncio lá fora - O mundo está perdido em caos, violência e intolerância.
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Sempre quando escuto isto dos homens tenho a sensação de que são Eles que estão perdidos no mundo.
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Você sempre contesta com o que digo.
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Este é o meu dever aqui.
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Me contestar?
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Ser o outro lado.
O
frio parecia invadir meu pulmão. Correntes gélidas perfuravam minha carne, me
puxando para um vazio desconhecido. A solidão já não era a pior coisa do mundo
neste instante. Cortinas escuras escondiam a alvorada. Não havia nuvens, apenas
manchas escuras no céu.
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A vida sempre foi algo frágil demais - disse ele inflexivelmente. Olhava com
atenção a ferocidade da destruição em nossa volta.
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A vida sempre tende a continuar! Não importa as dificuldades. Ela sempre arruma
uma forma de se manifestar. Isto é lindo.
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Menino incompreensível. Nunca percebe, não é mesmo? Sua causa cairá em ruínas
quando perceber que tudo se destina em padecer. A vida, no entanto, é apenas
uma resistência.
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Como você pode contestar a vida?
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Não contesto, mas vejo gente tentando burlar o fim o tempo todo. Abra seus olhos garoto, o tempo é curto. Faça a diferença.
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Para quê? Se o destino final de todas as coisas é a morte, por que eu deveria
fazer a diferença? Sou apenas uma resistência. Vou sentar aqui e esperar meu
fim chegar - cuspia as palavras ironicamente.
Ele
fechou os olhos com decepção. Virou-se ao se afastar de mim em passos lentos.
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Ei! Aonde vai?
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Procurar uma humanidade melhor, mais consciente e tolerante.
