A Monologia Singular do Peixe Julia


Hoje deve ser o dia 680 dessa vida que tenho levado.
Julia, Julia, Julia, quantas vezes vou ter que te olhar nesse espelho e sentir pena de você?
Por que é que não seguiu o conselho dos teus pais e a necessidade do teu país e foi ser enfermeira lá na Europa? A Alemanha está conquistando tudo.
Essa água gelada com que lavo o rosto sempre foi boa para me trazer de volta à realidade.
Gosto de me olhar novamente no espelho, já com o rosto molhado e ver as gotas descendo lentamente.
Eu sei que minha habilidade ainda é limitada, mas não é assim no começo de tudo? Tenho que seguir meu sonho de ser uma tenista profissional.
Tenho que melhorar.
Tenho que seguir o sonho.
Tenho que fazer a diferença no Mundo.
Tenho que acordar cedo amanhã.
Tenho que ir dormir logo, é verdade.

São tantas cobranças, tantos planos, ora furados, ora brilhantes, e está tão mais legal ficar aqui de frente pro espelho fazendo caretas e brincando com eu rosto, ainda molhado.

Nem parece que o mundo lá fora está em guerra. Acho que acabei de lembrar de algo que eu tinha que fazer com o Mundo.
Não sei, esqueci, pareço tanto com minha prima Dory.
Que seja, já vivo em uma guerra aqui dentro, então já tenho vários problemas com que me preocupar. E quem não vive? Os meus problemas são tão únicos e ao mesmo tempo tão gerais, parece que todos passam pelas mesmas coisas, então por que não estamos compartilhando experiências?

Julia,
Volte a realidade e pisque. "Nossa, como odeio viajar assim do nada!".
Será algum problema que eu tenho? Dislexia? Déficit de atenção? Ou só porque eu não tomates? Meu pai já me alertava.

Bom, eu tenho que ir dormir mesmo.

E agora eu quebro a terceira ou a quarta dimensão (ou parede) e falo com você que lê e que me ouve.

"Eu não sou aquática", mas se posso lhes dar um conselho, diria que "continue a nadar".
Saia da zona de conforto de tamanha forma que o Mundo inteiro se tornará seu mar, e vocês serão os maiores peixes dele.

Mas não esqueça: O maior peixe é sempre o mais caçado.