Tão inevitável quanto o tempo, é viajar.
A estrada se alonga a frente e essa Kombi já devorou muito asfalto por aí.
Estou dirigindo como se fosse algum tipo de louco,
Rápido, intenso, por vezes até nervoso, mas apaixonado.
É na noite que preciso parar.
Preciso sentar, e sem um objetivo que mantenha minha mente dentro da jaula da monotonia e da responsabilidade,
Ela maliciosamente começa a divagar por vários lugares.
Primeiro é como se toda energia em mim acabasse em uma explosão. Eu sei que é agora que a minha mente luta pra escapar da prisão em que estava.
Depois vem a nostalgia, vem as saudades, vem a tristeza, e no meio de tudo isso vem a pior de todas as coisas: a dúvida.
Será que um novo dia vai amanhecer amanhã?
Depois de muito custo, a mente consegue encontrar um pouco de calma e acaba ficando sonolenta. Olhando para as minhas barbas brancas no queixo é que eu pisco os olhos pela última vez naquele dia.
A noite é fria, e mesmo assim eu acordo com o rosto suado.
Dizem que os sonhos mostram aquilo que é mais verdadeiro para nós. Eu preferia não acreditar nisso, para que ao menos não exclamasse, todas as noites,
"Eu não acredito que sonhei com isto novamente."
Quando, pela manhã, ligo o motor novamente,
Me pergunto se toda viagem não é uma fuga.
Enquanto alguns fogem de monstros imaginários, outros fogem de cidades marcadas por memórias.
Eu sei que já arranquei o espelho retrovisor e prefiro dizer que fujo é de mim mesmo.
As cidades que ficam pra trás ainda me assombram, mas o que mais amedronta é pensar que o asfalto um dia vai acabar.
Como seria um filme sobre a minha vida?
Quatro rodas, um volante, algumas lágrimas aqui dentro e um bocado de chuva lá fora?